Reviews - abril 2018 (I)


As Árvores Estão Secas e Não Têm Folhas (URZE DE LUME)
(2018, Equilibrium Music)
No seu terceiro trabalho, os Urze de Lume apresentam o segundo e último capítulo dedicado ao Outono. Profundamente inspirado nas tradições ibéricas, As Árvores Estão Secas e Não Têm Folhas, tem como base o trabalho meticuloso de guitarra acústica que cria ambientes etéreos. E, tal como na referida estação, este é um disco caraterizado pela desolação e com a capacidade de criar paisagens frias. Destaque para a incorporação de instrumentos de sopro, rebeca, gaita de foles e percussões discretas que acentuam uma áurea medieval e introduzem algum colorido musical. [72%]


Olhos Fixos (VULTO VIOLETA)
(2018, Zona22)
Originalmente lançado em formato digital no ano passado, a editora portuense Zona22 promove agora a edição em formato físico do disco de estreia dos Vulto Violeta intitulado Olhos Fixos. Sons negros, industriais e góticos com vozes graves em forma de declamação de linhas poéticas obscuras e tenebrosas criam ambientes nostálgicos de rock. O português assenta bem nesta coleção de temas (apenas um, o final, é em inglês) onde os amantes de nomes mais antigos como Mão Morta ou mais recentes como Inkilina Sazabra seguramente se reverão. [67%]


Lead Head (TEKUNO)
(2018, Independente)
Eis as regras - não se pode usar guitarra elétrica; as músicas são aprendidas e gravadas no dia de gravação; o mesmo instrumento não pode ser gravado da mesma maneira em duas músicas diferentes; o primeiro take decente é o escolhido! Quem estabelece estas regras é Tekuno, projeto lisboeta, composto pelo próprio, que toca praticamente tudo e por Medley, que toca algumas baterias. Da junção de um som abrasivo, guitarras acústicas e muito fuzz surge Lead Head. É já o quinto registo e som sujo e a produção caseira evidenciam a costela experimental, post-punk e noise. Mas também fica evidente que há muita falta de inspiração e muito trabalho pela frente. [38%]


Festival da Canção 2018 (V/A)
(2018, Universal Music)
De repente, o Festival da Canção voltou a ser um momento marcante da canção nacional. Luísa Sobral, Salvador Sobral, Amar Pelo Dois e a vitória em Kiev foram os elementos que alavancaram essa situação. Para 2018 a RTP apostou na mesma fórmula, aprimorou-a e tivemos um misto de nomes novos e consagrados a trabalhar naquele que terá sido, em termos da qualidade das canções, o melhor Festival de sempre, com diversos estilos e géneros a serem revisitados. Para os amantes destas coisas do Festival, a Universal em colaboração com a RTP lança um CD com os 25 temas a concurso. É que, de facto, há ali momentos para guardar para a posteridade, nomeadamente as canções de Rui David (composta por Jorge Palma), Anabela, Catarina Miranda, Joana Barra Vaz, Peu Madureira, Maria Inês Paris, Lili ou Peter Serrado. Esta última do luso-canadiano, e a de Sequin, cantadas em inglês, foram a exceção no uso da nossa língua. O que se saúda! [82%]


Radio Voltaire (KINO)
(2018, InsideOut Music)
Já foi há 13 anos que os Kino lançaram o seu álbum de estreia, Picture, e Radio Voltaire, o seu sucessor, teve de esperar mais de uma década. Embora John Mitchell ainda pensasse começar a escrever o terceiro álbum dos Lonely Robot, foi aconselhado a enveredar por outro caminho. Um caminho que o traz até um rock progressivo com temas relativamente curtos, muito emotivos, com bastantes linhas de piano e onde apenas há um solo de baixo! No fundo, a continuação do que havia apresentado em Picture, mas com a capacidade de expandirem as suas ideias para outras paisagens sónicas. [83%]

Comentários