Entrevista: Senhora Dona Morte

2013 termina com mais um marco importante no panorama spoken word nacional. O projeto Senhora Dona Morte que revisita o impressionante legado daquela que provavelmente será a maior poetisa nacional de todos os tempos: Florbela Espanca. A importância histórico-literária deste projeto levou Via Nocturna a contactar Alexandra S. a mente criativa responsável pela Senhora Dona Morte.

Antes de mais obrigado pela tua disponibilidade. Em que consiste o projeto Senhora Dona Morte?
Olá! Senhora Dona Morte pretende dar voz, forma e musicalidade a palavras do passado. Explorar a vasta obra poética em língua portuguesa para voltar a falar nos sentimentos que nela se encerram. No fundo, uma voz para ouvir só.

E quem são os elementos que integram este projeto?
Gosto de pensar que existem várias pessoas, pois tenho muitas ajudas, das fotografias às músicas. Neste «Florbela», por exemplo contei com a essencial ajuda do Aires Ferreira para dar forma às minhas ideias musicais.

Como surgiu a ideia de criar um projeto em torno da obra de Florbela Espanca?
Recordo-me que Florbela terá sido das primeiras poetisas que li, ainda em pequena. Sou, até hoje, uma fã acérrima da sua obra. Sempre pensei, em miúda, como seria bom ter Florbela Espanca para ouvir no autocarro a caminho da escola, nas noites sozinha, enfim! Ter alguém que me lesse Florbela. A ideia ficou por muitos anos, e finalmente ganhou forma com Senhora Dona Morte.

E porque a escolha de Florbela Espanca e não outro poeta nacional ou mesmo internacional?
Tinha de começar por Florbela!...  É aliás, um poema da mesma, que dá nome a este projeto. Este primeiro trabalho foi uma homenagem que espero ter contribuído para avivar o seu mito, ainda mais. Ela merece. Entretanto já fiz e farei outros autores como Cecília Meireles ou Jorge de Sena para o canal da Serpente no youtube. Visitem! Há por lá muito e bom conteúdo!

Houve algum critério a presidir à escola dos poemas? Não deve ter sido fácil essa escolha atendendo a toda a criação e à excelência da mesma criação de Espanca?
As escolhas nunca são fáceis.... Mas não houve propriamente um critério. Alguns, já eram meus preferidos outros foram trazidos pelo destino das mais diversas formas. Ou o livro abria naquela página, ou o Aires já sabia a que poema pertencia a música que acabara de compor.

Depois houve o processo de musicar esses poemas. Como se processou essa fase? Que cuidados tiveram?
Sou um pouco louca e fui com regularidade à casa onde Florbela morou, em Matosinhos. No regresso ouvia a música que trago no carro e doze horas de trabalho depois, estava um esboço feito! Os cuidados foram poucos. A ideia sempre foi fazer algo orgânico o suficiente para que o disco pareça algo genuíno e não mais uma produção hollywoodesca. Tratei do que consegui no piano e tudo o resto foi feito em conclui com o Aires e ainda tive a muito especial participação de um dos meus guitarristas preferidos de sempre, Nelson de Sousa, no tema A Doida. É, claro, um disco humilde na produção, mas é o que é possível a artistas independentes fazer por cá em 2013. Eu cá estou orgulhosa.

Para já edição apenas digital. Quem quiser ouvir e/ou adquirir o que deve fazer?
É verdade. Basta aceder a Serpente.net (para os interessados em comprar) ou procurar no youtube por Senhora Dona Morte.

E há previsões para uma edição física ou não?
Há sim. Aliás, quem já comprou a versão digital terá o valor na íntegra devolvido a quando da compra da edição física. Esta, caso a edição digital a consiga suportar em termos de custos, terá lançamento num oito de Dezembro de um ano não muito distante.

E projetos para levar estes poemas, por exemplo, para palco? Ou já está a ser realizado?
Já se falou nisso e até já fui convidada para fazê-lo, mas na verdade tenho sido um pouco avassalada por toda a boa atenção que o disco está a receber e acaba por ser esse o principal objetivo: divulgar o disco. Até para que se justifiquem então uma ou duas datas ao vivo. Que o futuro o decida!

E outros projetos para o novo ano que se avizinha?
Basicamente continuar a fazer outros autores e porque não Florbela, no canal da Serpente no Youtube.

Obrigado. Queres acrescentar mais alguma coisa que não tenha sido abordado nesta entrevista?
Obrigada eu pela gentil entrevista e divulgação! Espero que ouçam, sem preconceitos, e talvez descubram uma Florbela diferente da que imaginam. Grata!

Comentários