Entrevista com N.O.W.

Alec Mendonça, na realidade já tinhas gravado um álbum em 1996. Pode-se considerar isso como o embrião dos N. O. W.?
Alec Mendonça (AM):
Bem, na verdade, em 1996 eu tinha uma banda e nós conseguimos um produtor que estava disposto a financiar a gravação do CD pela Sonopress (Sony do Brasil). Só que o problema, é que havia muitas cabeças pensantes e o próprio produtor além de querer cantar em algumas músicas quis impor músicas de sua autoria. Então na verdade, apesar do CD ter várias composições minhas, eu tinha que ir pela cabeça do produtor, o que descaracterizou o álbum e o transformou numa salada musical. Esse álbum de 1996 tem os seus momentos e algumas músicas muito boas e pode ser considerado o meu começo mais profissional, sim.

Entretanto, estiveste 14 anos afastado da música. Consideras que foi importante esse afastamento ou, pelo contrário, sentiste necessidade de voltar a tocar?
AM: Na verdade, eu me afastei da música porque a minha mãe descobriu que estava com cancro da mama e ela era a directora de uma escola onde eu dava aulas. Por causa disso eu tive de assumir a parte administrativa do negócio também, o que me deixou sem tempo até para respirar. Eu trabalhava mais de 60 horas semanais, às vezes até 11:00 p.m. para estar de pé novamente às 7a.m. do outro dia. Mas a música nunca cessou dentro de mim, eu escutava música constantemente, sempre. O pior no meio disso tudo foi ter de vender o contra baixo que eu tinha..... Mas depois de conseguir reerguer o negócio da família e estabilizá-lo, graças a Deus consegui administrar tudo de uma maneira que eu pudesse a voltar a fazer o que eu mais amava, que é compor e tocar.

Os N.O.W. nascem somente após esse hiato, certo? Mas nessa altura os temas já estavam todos escritos ou não? Qual foi o input em termos de composição dos restantes elementos do grupo?
AM:
Sim, a banda N.O.W. nasceu em 2009, em Fevereiro para ser mais exacto. Eu ainda não tinha as canções, eu só tinha algumas ideias que pipocavam na minha cabeça e fui fazendo as músicas na base da inspiração, muitas vezes ligando o gravador e cantarolando a melodia como um louco onde quer que eu estivesse para não esquecer depois. O mais engraçado, é que eu muitas das vezes cantarolava a melodia mas já sabia exactamente a história que eu queria cantar naquela música, as frases também vinham à minha cabeça... Para falar a verdade, eu nunca me sentei e disse: agora eu vou compor. Às vezes eu fazia 3 músicas numa semana, mas depois ficava 3 semanas sem fazer uma só música.

Só depois surgiu o Philipe Bardowell. De que forma se conheceram?
AM
: O Philip é uma pessoa fantástica, que eu entrei em contacto via e-mail no myspace. O Lou Gramm (Foreigner) é um dos meus maiores ídolos! E para a minha surpresa, quando eu escutei o album Places Of Power eu mal podia acreditar na semelhança de voz dos dois, fiquei extasiado! E com isso eu entrei em contacto com ele, mas nunca podia esperar que ele aceitasse ou gostasse tanto das músicas. Após isso, trocamos algumas ideias e ele marcou o estúdio em Los Angeles com o engenheiro Gary Griffin (Beach Boys) para a gravação dos vocais. Eu enviava os arquivos em MP3 para ele e ele colocava as trilhas, chegando aqui era só sincronizar, adicionar as minhas vozes e misturar.

Qual o papel do Philip nas linhas vocais por ele interpretadas?
AM: Eu enviei um texto enorme para o Philip dizendo como eu achava que as músicas deveriam ser cantadas, uma por uma, o tipo de interpretação e tudo mais. Logicamente que eu deixei na mão dele a palavra final, afinal, ele é um cantor fantástico e quem sou eu para discordar de qualquer coisa que ele dissesse. Mas a nossa relação acabou por se transformar em amizade, por ele ser uma pessoa tão familiar e trabalhador, assim como eu. Philip canta todas as músicas do vocal principal, e eu faço todos os backing vocals e harmonizações vocais do álbum.

Segundo o press-release, Philip terá dito que poria todo o seu coração nos temas. Ouvindo a sua interpretação pode dizer-se que pôs mais que o coração: pôs toda a sua alma e emotividade. É, também, o vosso sentimento?

AM: Sem dúvida! Muitas pessoas têm dito que esse é o trabalho mais emotivo do Philip e eu concordo plenamente.

Entretanto surge o contacto da Escape Records. A procura de uma editora que pudesse levar mais longe o nome N.O.W. era um prioridade ou nem por isso?
AM
: Sim, pois apesar de eu ter sido contactado por mais 2 gravadoras, eu achei que o que o presidente da Escape, Khalil, me ofereceu condizia com tudo que eu precisava para mostrar esse meu trabalho ao mundo.

E foi fácil o recrutamento de músicos para preencher os lugares dos N.O.W.?
AM
: Mais ou menos. Logo de cara eu consegui encontrar o Jean Barros através de um contacto do Leo Mendes (Highest Dreams). O problema é que o Jean Barros é um músico super requisitado no Brasil, já tendo trabalhado com todas as feras do MPB daqui. Mas ele gostou tanto das músicas e era um trabalho tão diferente do que ele estava acostumado a fazer que ele aceitou depois de uma certa insistência minha e tudo foi gravado na casa dele, quero dizer, as bases todas de teclados, arranjos, cordas, etc... Mas como ele mora a mais de 80 quilómetros da minha casa, era sempre cansativo. Após isso eu entrei em contacto com um amigo de infância meu, o Carlos Ivan, que me ajudou a criar todo o fantástico mundo das guitarras dos N.O.W. Ivan é um talento nato e acrescentou muito a essa singularidade do álbum, deixando ele com uma cara meio que de anos 70 mas com um som moderno ao mesmo tempo. Eric Leal também é um amigo de longa data e um excelente baterista, um dos melhores do Rio de Janeiro que aceitou de imediato. Ele participou do meu primeiro álbum em 1996 também. O Caio de Carvalho foi indicação do estúdio e assim que eu o conheci nós nos conectamos. Ele ama o mesmo estilo que eu e com isso conseguiu transmitir todo o toque bluesy e melódico que ele tem para as músicas. Sem querer, quando eu percebi, havia montado uma banda da exacta maneira que eu imaginava que deveria ser.

Considero que Force Of Nature é um dos melhores álbuns do seu estilo em muitos anos. Por isso, devem estar satisfeitos com o resultado?
AM: Estamos satisfeitíssimos! Eu estou me surpreendendo com o excelente feedback do álbum, apesar de ser cedo ainda e acredito que todos estejam muito satisfeitos com o resultado, inclusive a Escape.

Sendo ainda cedo para teres obtido algum feedback, mas estando conscientes do grande trabalho que os NOW têm em mãos, as expectativas estão em alta?
AM: As expectativas estão bem altas, até porque já estamos recebendo bastante feedback de toda a Europa! Muitos críticos estão comparando os N.O.W. com bandas clássicas e isso tudo é inacreditável para mim. Eu sou bem realista e
apesar de tudo isso estar a acontecer, a minha maior esperança é gravar um segundo álbum para mostrar ao mundo que eu não sou um artista de um disco só. Já tenho 8 composições novas prontas e acredito estarem ainda melhores do que as primeiras. Uma coisa que eu sempre procuro, é inovar, ser diferente, não gosto da mesmice e eu acho que o grande público também não. As músicas do álbum acabaram saindo com aquele algo a mais, com uma singularidade que fez ele se destacar no meio de tantos álbuns bons. Espero que os fãs escutem o disco com o mesmo prazer que eu tive ao fazê-lo.

E o que está planeado em termos de apresentação deste álbum ao vivo? Algo para Portugal?
AM: Na verdade hoje em dia, o CD é que puxa a banda, se tivermos um nível de vendas excelente em Portugal e houver algum festival que formos chamados, há essa possibilidade sim, afinal, sempre fui um músico de tocar ao vivo e adorava dar shows.

Obrigado, parabéns pelo álbum e felicidades.
AM: Um grande obrigado à você também, por estar dando esse espaço tão importante para nós. ROCK ON!

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